segunda-feira, outubro 16, 2006

Rugas

“Não acredito em quem nunca foi de esquerda e nem em quem continua sendo”. A frase é do Bussunda. Li há um bom tempo. Li quando ainda havia, ao menos aparentemente, uma distinção clara entre esquerda e direita. Eu devia estar na faculdade. E achava muito estranho, tinha preconceito, confesso, quando me deparava com um estudante assumidamente de direita. As pessoas legais, descoladas, cultas, despojadas, solidárias e divertidas eram de esquerda. Levamos para o DCE (Diretório Central do Estudantes) essa racha. Do outro lado estavam os conservadores, os chatos.

Jovens costumam ser idealistas, inocentes. Querem transformar o mundo. São solidários. Românticos. Só a esquerda permitia cultivar essa utopia.

Mas o tempo passa. A vida endurece. Perde a leveza. A crença na imortalidade acaba. Coisas bem mais “práticas” dominam a pauta. Trabalho, casamento, filhos. Sobrevivência. É o fim da ilusão.

Tenho lido blogs de amigos, ex militantes do movimento estudantil, ex-eleitores de carteirinha do PT e afins, defenderem veementemente o anti-lulismo. Tão apaixonadamente como nos tempos em que eram cabos eleitorais do presidente.

Não acho que foram os dólares na cueca e outros escândalos que provocaram essa mudança. Acho que ela aconteceria de qualquer jeito, tão naturalmente e certeira quanto os fios brancos e as rugas.

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