domingo, março 25, 2007

Ciclo

A vida, dizem, é um ciclo. Faz sentido. Nascemos, crescemos, evelhecemos, morremos. Vejo claramente um ciclo em tudo. Eu acabo de voltar ao jornalismo diário. Depois de tantos caminhos interessantes, outras direções, sou, de novo, uma repórter. Exatamente por onde comecei. E vou revivendo o que essa profissão tem de mais interessante. Uma conexão brutal com a realidade. No jornalismo diário, conhecemos tudo. Mazelas, sofrimentos, probreza. Esperança, solidariedade. Vida e morte. Saí do meu mundinho e fui novamente plugada a vida como ela é...

domingo, março 04, 2007

Crime e Castigo


Sigo firme e obstinada na missão de transpor os anos de ignorância literária e mergulhar nos clássicos que deixei de ler. Acabo de concluir Crime e Castigo, depois de exatos 1 ano e meio em minha cabeceira. É um livro pertubador e por isso mesmo tantas vezes o mandei para o final da fila, privilegiando leituras mais amenas. Por fim, persisti. Vi outro dia alguém dizendo que não se aprende com livros, mas tem-se uma experiência. Minha sensação é a de ter mergulhado num fosso sufocante, pequeno, úmido - como o porão onde o Raskolnikóv morava - e de ficar me debaendo para encontrar uma saída. E no último instante, com poucas esperanças, uma luz me tirou desse buraco. Esforço-me para não cair na conclusão simplista de que o amor, afinal, redime. Ele, de fato, redime. Mas a coisa não é tão simples. Será que Dostoievski quis dizer que no fundo somos todos "piolhos" e que o esforço para pairar acima do bem e o mal, com coragem para agir como se bem entende é inútil? Seríamos todos piolhos, sempre, em qualquer cirscuntância? Ainda não quero racionalizar. Quero curtir a experiência dessa obra, que mais tarde, vou reler para tentar entendê-la. Por enquanto sigo impregnada por esses personagens que, em algum momento de minha vida, sou capaz de encontrar dentro de mim. Especialmente as mulheres. Todas. A louca, a abnegada, a crédula - na alternância dos meus sentimentos e na maneira de reagir à vida. Volto ao tema outra hora, já refeita dessa emoção.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Sensibilidade na tela


Pequena Miss Sunshine é lindo, engraçado, sensível. É exatamente o tipo de filme que me agrada. Barato, simples, mas muito verdadeiro. Não é piegas. Não é feito para arrancar lágrimas. Ao contrário, arranca risos em meio a dramas bem sérios. E comove naturalmente. Porque assim é a vida, uma alternância de risos, lágrimas, loucura, neuras. Mas no meio disso tudo existe algo que dá sentido, alimenta, ajuda a segurar a barra: a família. Pode ser uma família louca numa kombi rumo a um concurso de miss infantil ou a minha, ou a sua. É lindo, o filme é lindo! Desses, do Oscar, foi o único que vi. Tenho um pé atrás com filmes do tipo Infiltrados, que eu não duvido que deve ser bem feito em tudo mais. Mas não tenho muita motivação para assistir.

Eu detesto o horário de verão!

Pra mim uma das coisas mais estúpidas que existe é o tal horário de verão...Acordo mais cedo, mas nem por isso vou dormir mais cedo...quem consegue jantar às 20 hs com aquele solão???? Aí a gente se engana: pensa que ainda é dia, quer aproveitar, acaba indo pra cama mais tarde, mas no outro dia não tem refresco não, tem que pular uma hora mais cedo da cama.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Saída de emergência

Gosto de ter sempre uma saída, uma porta de emergência, uma janela para pular, sair à francesa, vazar, escafeder-me... Talvez por isso eu deteste aviões. Não dá para gritar “pára que eu quero descer!!!!”. Eis um dilema que sempre me persegue: fico ou não fico até o final? Quase sempre vou embora antes...O que isso quer dizer? Não tenho a menor idéia....As vezes ligo o botão da resignação. Fico com dó de mim e encaro até o final. Hoje, por exemplo, dei o azar de encarar uma quarta-feira “gorda” no São Francisco. Tinha que fazer compras: cheguei de viagem com a geladeira zerada. Parece que todo mundo teve a mesma idéia. Pior, era dia de ofertas e a sessão de “hortifruti” era um congestionamento só: trombadas de carrinhos, empurrões, esbarrões, filas...E eu pensando: “dou no pé ou não”. Fiquei. Resisti. Comprei. E na falta de um assunto melhor, escrevi esse textinho mixuruca enquanto espero a hora de almoçar....

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Carta ao Pai

Acabo de ler Carta ao Pai, de Kafka. Um duro relato sobre o quanto o autor de sentiu oprimido, inferiorizado pelo pai. Veio desse sentimento, conta Kafka, a matéria-prima para a sua literatura. Os livros nada mais foram do que respostas a esse pai, verdades que ele não conseguir dizer diretamente. Já ouvi que a grande literatura nasce de algum tipo de sofrimento. Faz algum sentido. Talvez pela intensidade de sentimentos que a provém da dor. Talvez pelo mergulho interior que ela nos empurre. Talvez porque escrever alivie essa dor. O pai nunca chegou a ler a tal carta. E felizmente ela não foi destruída. É hoje um livro muito interessante não apenas para quem deseja compreender um pouco sobre Kafka. Esse depoimento nos dá a exata medida do poder que os pais exercem sobre os filhos. Somos espelhos para as crianças. Elas se vêem através de nós, os pais. A ânsia de educar não pode jamais suplantar a ânsia de amar. Filhos precisam se sentir amados. Senão, terão a auto-estima baixa, uma marca que pode aniquilar sonhos e potencial de realização. Veja o próprio Kafka. Ele jamais se libertou do sentimento de inferioridade impregando em sua vida pelo desdém e pelas duras palavras do pai durante a infância. Ele jamais se deu conta do seu valor, do legado que estava deixando à literatura.

Aniversário

Faço aniversário hoje: 35 anos. E estou feliz. Sou uma balzaca feliz. A vida me sorri. O dia hoje está chuvoso. Vejo o mar pela janela, uma imensidão prateada. Como isso é belo!

Em busca do tempo perdido

Uma das minhas promessas para este ano é ler, ler muito. Tantos livros quanto eu puder. E tirar o atraso dos últimos anos, tempo em que praticamente abandonei a literatura. Ano passado, em Curitiba, fiz duas oficinas literárias que recomendo. Uma no Solar do Rosário, com uma escritora chamada Isabem Furin. Muito generosa, Isabem compartilhou seu conhecimento e me ajudou a reencontrar a criatividade, duramente reprimida pelos anos de jornalismo. Escrevi alguns contos durante nossos encontros, no inspirador casarão do Lago da Ordem, pelos quais tenho um imenso afeto. Isso mesmo: afeto. Tenho carinhos por esses escritos, não pela qualidade literária que talvez eles sequer tenham. Mas por representarem um renascimento. Uma ponte para o território livre da ficção, coisa que me dá um prazer danado. Adestrada que fui para reproduzir a realidade, a verdade dos fatos, hoje percebo que a ficção é muito mais honesta e capaz de captar o real do que o jornalismo e sua pretensa imparcialidade. Mas isso, é assunto para outro post...
Outra oficina que fiz foi com o José Castello. Escritor e jornalista literário ele tem um conhecimento invejável sobre literatura. Entrevistou grandes escritores e conhece como poucos esse universo. Foram encontros muito interessantes. Reconheci o tamanho de minha ignorância literária, mas não tomo isso como algo negativo. Pelo contrário: estou feliz, porque me sinto madura para trilhar esse caminho e recuperar o tempo perdido. Por falar nisso, um dia ainda lerei Proust...

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Inversão

Curioso como algumas coisas se invertem. Minha mãe veio me agradecer os conselhos conjugais que eu dei para ela. Disse que fizeram muito bem e surtiram efeito. Não deixa de ser engraçado... A relação entre pais e filhos muda com o tempo. Só o amor incondicional permanece.

Vínculo

Estou me recuperando na casa dos meus pais. E isso é muito interessante. Voltar a ser filhinha. Eu, que agora só passo com eles alguns poucos dias durante as visitas, estou entregue aos cuidados de papai e mamãe. É um volta no tempo. Mas com um sabor diferente. Eles mudaram muito. Eu também mudei. Não é o mesmo lar da minha infância. Mas há um elo que ressuscita a intimidade e deixa tudo com um gostinho especial: o imenso afeto entre pais e filhos. Um amor diferente de todos, um amor incondicional. Ontem comi sopinha da minha mãe. Sopinha nova, de receita nova. Não é a sopinha da infância. Não tenho vínculos sentimentais com o passado. O que me faz um bem danado é o fato de comer uma sopinha preparada pela minha mãe. Meus queridos pais, que serão meus pais para sempre, em qualquer tempo ou lugar!!!!

Esqueceram de mim

Fui esquecida no hospital depois de uma laparoscopia (aquela cirurgia com vídeo). O médico não apareceu para dar alta e eu fiquei lá, um dia inteiro a mais, sem medicamentos prescritos, louca para ir embora...A alta deveria ter sido dada no outro dia pela manhã. Só a noite descobrimos o motivo: o médico viajou e deixou uma colega engarregada dessa missão. Só que a dita cuja também viajou e esqueceu de mim! O outro médico que auxiliou na cirurgia também havia viajado. Os três foram para a praia, destino de quase todos os curitibanos nos dias de sol. Culpa minha: quem manda a desavisada marcar cirurgia para sexta-feira....

Mas não fiquei fula da vida não. Estava tão feliz por tudo ter corrido bem, que o esquecimento causou um leve aborrecimento, ou nem isso. Integro o time das pessoas que têm medo de tudo o que me deixa impotente: isso inclui de avião a cirurgia com anestesia geral... Mas, encarei o medo e fui. Fiquei feliz. Foi um superação.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Meu mundo

Li outro dia que lá pelos 90 anos a avó do Saramago disse uma frase que ele jamais esqueceu: "tenho uma dó de morrer... o mundo é tão lindo...". Nesse segundo dia de 2007 não posso deixar de pensar na alegria de estar viva, nesse mundo tão belo...Sim, eu sei, tem as misérias, as guerras e tantas coisas que não compreendo. Mas ainda há mais coisas admiráveis. Não sou pessimista, não me vitimizo, não vivo reclamando. Acho que isso é uma escolha.Tampouco sou uma Polyanna, uma alienada. Mas acho mesmo que viver ainda é uma dádiva. E como acho linda essa palavra: dádiva!

Agora, por exemplo, minha filha e meu sobrinho entram sorrateiros no quarto e me pregam um susto. Eu, que já tinha percebido a presença deles, enceno um sustão, com direito a um pulo na cama e cara de espanto. Eles caem na gargalhada. O mundo é ou não lindo?

Se eu pudesse congelar a vida o faria agora. Acabo de passar o Natal e a passagem do ano com as pessoas que mais amo na vida: marido, filha, pai, mãe, irmãos, sobrinho...Todos aqui, vivos, com saúde...Não, não preciso escalar o Everest, ser presidente de empresa, conhecer o mundo... Eu já tenho o mundo!

Nesse momento minha filha me pede o presente do natal do ano que vem...Essa menina pensa longe!!!! Quer um kit de espião, com binóculo, relógio comunicador e me pergunta de o Papai Noel vai conseguir fabricar os equipamentos, que ela sabe, são "modernos e dão muito trabalho"...