sábado, dezembro 09, 2006

Mudança

Em seis anos mudamos cinco vezes de casa. Foram três cidades. Quase sempre no fim do ano, como agora. Lá estou eu revisando tudo o que a vista não alcança. Coisas guardadas em caixas. Roupas que não saem há tempos das araras ou gavetas. E principalmente: papéis. Muitos papéis. Entre o veredito "vai para o lixo ou não vai" vou sendo atacada por lembranças persistentes. Não quero pensar no passado. Gosto de olhar para a frente, sempre. Mas toda véspera de mudança é assim, não tem jeito. As lembranças saltam das caixas a cada objeto fuçado. Fotografias perdidas, agendas antigas, cartas e tantas outras coisas que reavivam a memória. Sempre "reencontro" pessoas, gente que saiu da minha vida. Mas que ainda poderia estar nela, não fosse a distância. E vou percebendo como algumas coisas são circunstanciais. Algumas amizades permanecem, outras não resistem às mudanças. Não apenas físicas. Mas às mudanças da própria vida impõe em seu curso. Algumas eu gostaria de rever, outras não.
Quando a gente muda, dá vontade de ter pouca coisa. Dá vontade de desapegar-se. Ficar mais leve. É difícil saber o limite entre aquilo que realmente não precisamos e aquilo, que mesmo sem precisar, nos dão certo conforto emocional.
Uma poltrona, por exemplo, não é apenas uma poltrona gasta. É a poltrona onde amamentei a Bia.
Eu já me desfiz de muita coisa e tenho medo de ser negligente com minha história. Eu gostaria de ter desenhos, agendas de escolas, poesias que eu escrevia quando criança. Não sobrou nada para contar minha história de criança, um brinquedo sequer. Por isso, estou guardando os desenhos e a história escolar de minha filha...
Já me desfiz de muita coisa...a maioria dos meus discos em vinil, doei muita coisa que ainda gostaria de guardar, como livros e roupinhas de bebê porque achava que eles deveriam melhor utilidade do que alimentar os meus vínculos emocionais.
Enfim, mudar é bom, mas também é um árduo exercício de reencontrar o passado e livrar-se dele...

2 comentários:

Anônimo disse...

Com tantas idas e vindas nesses quatro anos eu também mudei muito de casa. E adoro encaixotar, porque ali me recordo de coisas boas e jogo no lixo SEM DÓ outras que não me agradam mais. Roupas velhas (ou semi-novas, mas que não uso muito) vão para doação, livros que serviram apenas para um momento e pelos quais não me apaixonei, também caem na biblioteca mais próxima. Mas, sim, já fui muito negligente com a minha história. (Aliás essa sua frase tem que entrar para os anais desse blog) No entanto, li na revista da GOL dessa semana, numa viagem Curitiba-Congonhas, uma crônica sobre o desapego. Uma das frases me fez pensar: "A posse é temporária. O desejo de possuir é que é permanente". Acho que quando a gente muda (de casa, de trabalho, de cidade, de namorado) é que a gente testa mesmo o nosso grau de desapego. O detalhe é saber o que realmente é importante ou não deixar para trás.
Beijos!

Falando em viagens... disse...

Mudança é um bom exercício de desapego e uma faxina emocional!