sexta-feira, outubro 06, 2006

Insensibilidade

Nos semáfaros das grandes cidades todo o tipo de pedintes se aglomera diante dos veículos. Deficientes, desempregados, crianças, viciados, doentes. Em poucos segundos resumem suas tragédias para os motoristas. Ontem me abordou uma portadora de HIV com uma poesia na mão. Hoje um paraplégico. Forte, o sujeito tem pinta de quem pratica algum esporte. De vez em quando eu os vejo nesse mesmo cruzamento, são três ou quatro, com uma bola na mão. Pois hoje, quando um deles se aproximou, eu automaticamente estendi uma nota de um real. O cara ficou meio sem fala. Deve ter me achado grosseira, ou coisa assim. Crei que ele tinha um discurso pronto, queria não apenas pedir, mas ser ouvido. Eu abreviei o encotro. Estendi logo o dinheiro. Quis ser prática. Supus que que ele preferiria, pois teria tempo para se dirigir a outro motorista, aproveitando o mesmo sinal vermelho. Na hora, vi nos seus olhos uma certa frustração. Mas o cara engatou um discurso as avessas: me chamou de bonita, educada e disse vários elogios. Eu fiquei ali, sem graça, sorrindo, torcendo pelo verde redentor.
Por medo, desconcerto, a gente perde a sensibilidade. Outro dia cara me intimidou. Bateu olho no meu anel e ficou dizendo coisas do tipo "que anel lindo", "o maridão tá podendo" etc etc etc.
Mas hoje eu me senti muito mal dando aquela nota de um real. Talvez um sorriso sincero teria tido mais valia para o sujeito. Detesto falta de sensibilidade. Sobretudo a minha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, Alessandra, aqui estou...

Bem, acho que a sensibilidade, a caridade e a solidariedade são manifestações, ações e sentimentos que andam de mãos dadas. Porém, cultivamos determinados escudos, filtros e receios para nos protegermos de um suposto “mal” ou "perigo" iminentes.
Difícil é saber dosar todas essas emoções dentro de nós... e saber, sobretudo, equacioná-las.

Ah, mais uma vez, parabéns pelos textos, reflexões...!

Beijão


P.S.: Opa! Agora deu certo, consegui postar. ;-)