terça-feira, julho 18, 2006

vida monástica

Chegamos ao mosteiro sem nada saber sobre aquele tipo de vida. Um lugar lindo. Daqueles que nos convidam à contemplação. Lá tudo é silêncio. Só se ouve a natureza. E os visitantes, como nós. O jardim é tão bem cuidado que é impossível não pensar nele como a imagem do paraíso. O céu bem que poderia ser assim. Mas pra todos os efeitos, os monges tratam de cultivar aqui na terra o seu pedaço de Éden. Foi o que entendi.

Entramos na capela, rústica, paredes de pedra, chão de pedra. Arredondada, mas com quatro cantos por onde entra luz. Nós, os visitantes, entramos por uma porta e nos ajeitamos nas poucas cadeiras disponíveis para os que são de fora. Cinco horas e quinze minutos, pontualmente, hora em que o dia começa a se despedir, os monges começam a entrar por outra porta, do lado oposto ao que estamos sentados. Vêm encapuzados. Em poucos minutos a imagem assustadora – culpa do Dan Brown – se desfaz. Eles têm o semblante sereno, a maioria é bem jovem.

Dividem-se. Cada metade senta em um lado da capela, nas cadeiras especiais. Ao meio fica um espaço onde alternadamente, um pequeno grupo junta-se ao monge que conduz as orações, a cada novo cântico. Todas as orações são cantadas, em canto gregoriano, para nossa alegria traduzidos. É tudo muito emocionante.

Terminado o ritual, os monges apagam as velas e as luzes. Ficamos no mais absoluto silêncio dentro da capela. Tempo de meditar, de rezar, de refletir. Tempo de voltar-se apenas para o próprio interior, sem nenhuma interferência interna.

O celular de um casal toca atrás de nós. A mulher não sabe como desligar o aparelho e dá até para ouvir o sujeito na outra linha: Alô, alô, Manuel!. É um constrangimento muito pior do que o de um celular no meio de uma peça de teatro. O casal atrapalhado não suporta tanto silêncio. Estavam ali tão desavisados quanto nós. A diferença é que nós decidimos – mesmo sem combinar – manter o nosso espírito aberto àquela experiência.

Saímos de lá em alfa, em paz, em êxtase. E com uma felicidade tão plena, tão simples. Nada de euforia. Um sentimento semelhante ao amor.

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